sexta-feira, março 23, 2007

Discurso de Macho

* Publicado primeiramente por Fausto Wolff, dia 23/3/2007, no Caderno B do Jornal do Brasil.
Fragmento do discurso de Guaiucaipuro Cuatemoc, embaixador mexicano, em Maio de 2002, numa reunião de chefes de estado europeus.

"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a 'descobriram' 500 anos atrás. O irmão europeu da alfândega me pediu um visto para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento com juros de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu também posso reclamar pagamento e juros. Consta no Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.
Teria sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!
Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.
Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas. Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas a indenização por perdas e danos.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano, o MARSHALL MONTEZUMA, para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras.
Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: os irmãos europeus fizeram uso racional e responsável ou produtivo desses fundos?
Não. No aspecto estratégico, dilapidaram-no em várias formas de extermínio mútuo, da batalha de Lepanto às guerras do século 20. Jamais tentaram amortizar a dívida da matéria-prima e das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o terceiro mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, de que uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos a cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do terceiro mundo.
Nós nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça. Sobre esta base, e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300, isso quer dizer um número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata... quanto pesaria se calculado em sangue?"

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